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Axé Camará,

Mestre Yoga


Batizado - Grupo de Capoeira Nova Força 18.04.09 - Monitor Segredo

Batizado - Grupo de Capoeira Nova Força 18.04.09 - Monitor Segredo




Mestre Yoga no treino de 29.03.09

Mestre Yoga no treino de 29.03.09

Roda UFPE

Roda UFPE




segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Lendário Besouro Mangangá

A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manuel Henrique que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Mangangá por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.

Quando os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro lado, "Besouro" sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha poderes sobrenaturais veio logo, confirmando o pmotivo de ter ele sempre que carregar um "patuá". De trem, a cavalo ou a pé, embrenhando-se no matagal, Besouro, dependendo das circunstâncias, saia de Santo Amaro para Maracangalha, ou vice-versa, trabalhando em usinas ou fazendas.
Certa feita, quem conta é o seu primo e aluno Cobrinha Verde, sem trabalho, foi a Usina Colônia (hoje Santa Eliza) em Santo Amaro, conseguindo colocação. Uma semana depois, no dia do pagamento, o patrão, como fazia com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para São Caetano. Isto é: não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a contestas era surrado e amarrado num tronco durante 24 horas. Besouro, entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar, depois de tremenda surra.
Misto de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se envolvia em complicações com os milicianos e não era raro tomava-lhes as armas, conduzindo-os até o quartel. Certa feita obrigou um soldado a beber grande quantidade de cachaça. O fato registrou-se no Largo de Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do destacamento, Cabo José Costa, que incontinente designou 10 praças para conduzir o homem preso morto ou vivo.
Pressentindo a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e, encostando-se n
a cruz existento no largo, abriu os braços e disse que não se entregava. Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O cabo José chegou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então ergueu-se, mandou que o comandante levantasse as mãos, ordenou que todos os soldados fossem e cantou os seguintes versos: Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A plícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do mangue.
As brigas eram sucessivas e por muitas vezes Besouro tomou partido dos fracos contra os propritários de fazendas, engenhos e policiais. Empregando-se na Fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por Memeu, Besouro foi com ele às vias de fato, sendo então marcado para morrer.
Homem influente, o Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que na atilde;o sabia ler nem escrever, uma carta para um seu amigo, administrador da Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário com rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte. Pela manhã, logo cedo, foi buscar a resposta, sendo então cercado por cerca de 40 soldados, que incontinente fizeram fogo, sem contudo atingir o alvo. Um homem entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaca, quando notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou-se sorrateiramente e desferiu-lhe violento golpe com uma faca de ticum.
Manuel Henrique, o Besouro Mangangá, morreu jovem, com 27 anos, em 1924, restando ainda dois dos seus alunosL Rafael Alves França, Mestre Cobrinha Verde e Siri de Mangue.
Hoje, Besouro é símbolo da Capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A ginga da liberdade

Desenvolvida através da velocidade e da dança, a capoeira foi uma das manifestações mais decisivas no processo de resistência nos anos da escravidão.
A opressão feroz dos senhores de engenho e a necessidade de um mecanismo de defesa que pudesse ser aplicado na prática contra os feitores brutais fizeram nascer no Brasil uma das mais fortes manifestações culturais de resistência da história moderna: a capoeira. Mistura inquietante de dança e luta, música e violência, a capoeira foi-se constituindo a partir da própria cultura do dia-a-dia dos escravos negros que chegavam aos borbotões para trabalhar nos canaviais e fazendas, desde praticamente o início da colonização.
Membros de nações diferentes, com línguas diferentes, religiões, cultos e experiências diversas, os negros foram obrigados, para se entenderem, a aprender a própria linguagem do branco, a adaptar-se aos seus rituais, a compreender seus mecanismos culturais. Essa situação, que poderia parecer mais um instrumento de dominação, acabou servindo para a criação de uma nova cultura, muito rica, composta de elementos fundamentais das diversas nações africanas, modificadas pelas condições de trabalho e vida no novo país. E a capoeira, ao lado do candomblé, pode-se afirmar, foi a manifestação aparente mais decisiva desencadeado ao longo dos anos de escravidão.
A capoeira é uma luta. Mas uma luta que disfarça sua violência, sua capacidade de destruir o adversário numa aparente dança ao som de cantos de trabalho. E surgiu assim pela necessidade de esconder de feitores e policiais sua característica verdadeira. Sem possibilidades de conseguirem armas e munições, os negros desenvolveram um sofisticado sistema de defender-se com o próprio corpo, descobrindo que a velocidade e a ginga da dança – que haviam trazido da África – poderiam ser aliados poderosos. Misturou-se aí os conhecimentos do funcionamento de seus instrumentos de trabalho – o martelo, a foice, as enxadas – que vieram dar origem a uma série de golpes que imitam suas funções. Acrescente-se ainda as várias formas de defesa de animais: a marrada, a pancada seca com o rabo, o coice de uma mula, o estapear dos felinos. Criou-se então um sistema de golpes de surpreendente eficácia, mas adaptado muito mais à defesa do que ao próprio ataque. Uma luta rápida onde se deveria tocar o mínimo possível no adversário, geralmente bem mais armado e equipado. Uma luta de bate-pronto, própria para fugas, pois sua finalidade principal não era derrotar todos os adversários, mas imobiliza-los para propiciar a fuga, a liberdade.
Assim, a capoeira, utilizando a dança, o berimbau, os atabaques, como disfarces e de certa forma parte integrante de sua estrutura, acabou tendo um papel fundamental, não só do ponto de vista militar, na resistência à escravidão, como também de união cultural entre os líderes e seus grupos. Foi uma das armas importantes na constituição dos quilombos, foi fundamental para sua defesa, durante muitos anos. E só quando os exércitos portugueses haviam adquirido armamentos mais poderosos e sofisticados, como escopetas e canhões leves, foi possível realmente arrasar e derrotar os quilombos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O toque que dá o ritmo e manda o recado


Antigamente não havia música de fundo na capoeira. No máximo, quem estava por perto marcava o ritmo com um tambor, Em seu fabuloso levantamento publicado em 1834, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, Jean Baptiste Debret deixou claro que os tocadores de berimbau tinham a intenção de chamar a atenção dos fregueses para o comércio dos ambulantes. Um certo Henry Koster (inglês que se erradicou em Pernambuco, virou senhor de engenho e passou a ser chamado de Henrique Costa) escreveu em suas anotações de 1816 que, de vez em quando, os escravos pediam licença para dançar em frente à senzala e se divertiam ao som de objetos rudes. Um deles era o atabaque. Outro, “um grande arco com uma corda, tendo uma meia quenga de coco no meio ou uma pequena cabaça, amarrada”. Era um instrumento de percussão trazido da África. A palavra vem do quimbundo, “mbirimbau”.
O que conhecemos hoje é o chamado berimbau-de-barriga porque o músico leva e traz a boca da cabaça até o próprio corpo para alterar o som. Segundo o folclorista Édison Carneiro, foi neste século, e na Bahia, que o instrumento se incorporou ao jogo da capoeira, para marcar o ritmo dos praticantes. O que define um jogo rápido ou lento é o roque, um padrão rítmico-melódico tocado e cantado. Segundo o etnógrafo Waldeloir Rego, existem 25 tipos de toque. Entre os mais tradicionais, de autoria desconhecida, estão Angola (bem lento, para os capoeiras que gingam pertinho do chão), São Bento Pequeno (ou Angola invertida, para os golpes em que os oponentes chegam muito perto um do outro), São Bento Grande (para os jogos mais ágeis), Cavalaria (usado nos tempos da proibição do jogo par avisar a chegada da polícia), Amazonas (que saúda um mestre visitante), e a Benguela (o mais lento da capoeira regional, usado para acalmar os ânimos dos combatentes). O Iúna é um exemplo de toque instrumental, criado por Mestre Bimba para o jogo de capoeiras experientes. A maioria tem letra e muitas vezes quem está cantando aproveita para comentar o jogo, improvisando versos que pedem para baixar a agressividade ou que zombam do capoeirista que não é tão bom quanto dizia.